quarta-feira, 28 de julho de 2010

A escuridão - Parte I

Não sei bem o que se passa comigo, mas tem a ver um pouco com o que tenho lido. Não estou feliz. Não foi desta forma que imaginei o jornalismo. Ficar presos a moldes editoriais politicamente corretos, ser instrumento de chefias superiores, massa de manobra. Não sou assessor de imprensa de diretor de empresa. Não sou empresa. Não sou chefe. Não sou pago pra executar, obedecer sem contestar, argumentar. Sou um homem livre. Tenho escolhas a fazer, eu tenho opções. Não sou obrigado a nada, meu salário não é compensado em papel, meu papel não é compensando com salários. Eu quero mais. Não posso ficar sentado em frente ao computador, espreitando meus colegas pauteiros, na trinca pauta-proposta-marcação. Não sou eu quando estou aqui. Não estarei aqui enquanto não for eu. São maneiras. São passagens. São visões.

De que adianta escrever? Adestraram o jornalismo. Acabou o romance. Tudo é on, tudo é certinho, correto, não podemos isso, não podemos aquilo. Desumanizaram as reportagens. Desumanizaram os prazeres. Não se pode beber uma cerveja para ir a um jogo de futebol. Não se pode jantar com a namorada, beber algumas taças de vinho e ir pra casa dirigindo. Eu ainda tive esse prazer, essa, hoje, aventura. Não podemos assinar matérias, por livre e desespontânea vontade da linha editorial, quisera eu escrever torto em linhas certas. Aliás, posturas curvilíneas são praxe na empresa onde trabalho. Posturas ondulares e convenientes, onde quem se vende, muda de lado. Quem se compra também.

Prefiro arremessar palavras sem direção em linhas falhas. Humanas. Cansadas. Minhas. Não nasci para acatar ideias às quais não concordo, às quais não corroboro. Não se trata de insubordinação hierárquica nem intelectual, não é isso, mas ao entrever pelas perspectivas atuais meu futuro jornalístico, eis que pari um novo eu. Parla!


E, ainda assim, poderia embaralhar a todos com argumentos retos, mas em curva meladas pelo ócio intelectual. Não sou conivente com suborno moral ou empregatício. Sou da criação. Vou arrumar as malas, fechar a porta de casa, apagar as luzes e abrir as janelas: o sol é um sorriso de raios.

Um comentário:

  1. "É uma cova grande pra tua carne pouca
    Mas a terra dada, não se abre a boca..."

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