sexta-feira, 23 de abril de 2010

Expressos do conhecimento

Posso até estar enganado, mas a juventude de hoje não luta por nada. Está satisfeita com o marasmo, escondida em abrigos feudais e consumistas, isolada, sobrevivendo com horas extras e folgas. O país está abandonado e não há crianças felizes, mas infâncias cultivadas em cativeiro. Que falta faz a leitura? Que falta. O engajamento ambiental é a bandeira que tremula nesses novos ventos: tempos atuais. Os pobres cada vez menos ricos. O movimento estudantil falido e sobrevivendo com heranças revolucionárias que vão enferrujando no porão. Temos eleição à vista e o povo vota por interesse, por causa própria. O outro não existe mais. Lembrou-me Churchill: a democracia é o pior dos regimes – salvo todos os outros.



O que enfrentamos neste momento é uma maré de desinformação – talvez esse o grande paradoxo – mesmo com diversos canais de comunicação modernos. Não faz muito tempo, a luta armada era um meio de sobrevivência, uma medida de emergência: resgatar companheiros presos. A revolução pacífica deu-se lentamente, a revolução do povo: somos massa de manobra e não seremos nunca um país digno se não houver a mobilização popular. O que queremos hoje? Se o país se alimenta de escândalos e suas repercussões, onde estão todos?




Aplicou-se um seqüestro intelectual de nós mesmos. Vivemos de contar a história, mas não a fazemos mais. Estamos satisfeitos, sentados no sofá da sala, comentando sobre a novela e seus próximos capítulos. Discordemos do enredo e da trama, mas o futuro do país é assunto dos jornais. Políticos são bandidos, não prestam. Mas tudo na vida é político. Confunde-se os que ocupam cargos de administração pública, sejam eles quais forem, com políticos. Tem-se a idéia errada do adjetivo, substantivaram-no. Esse raciocínio está todo errado. É bem mais interessante procurar saber as histórias da nossa história. Conhecer os personagens. Entender as regras do jogo e não segui-las: questioná-las. Compreender que toda luta é luta, mesmo que não haja armas, mas canetas: palavras. Reconhecer na causa o sentido da vida, mas viver para a família também: preservar-se. Respeitar o silêncio: despertar. A minha revolução é escrita. É impressa. Não aceito suborno moral. Acredito em mim e vou lutar por um mundo melhor. Por isso escrevo caminhos. Por isso cruzo palavras. O conhecimento é um meio de transporte.

Um comentário:

  1. "Versos que gritam
    versos que se levantam como supostas baionetas
    versos que ameaçam a ordem estabelecida
    e através de seus poucos pés
    fazem ou derrocam a revolução,
    inúteis, falsos, arrogantes,
    porque hoje nenhum verso derroca regimes
    nenhum verso mobiliza as massas.
    (Que massas? Entre nós agora
    quem pensa nas massas?
    Quando muito um alívio individual, se não uma promoção.)
    Por isso já não escrevo
    para oferecer fuzis de papel
    armas feitas de palavras charlatonas e vazias.
    Que levante só um extremo da verdade
    que lance um pouco de luz em nossa falsificada vida.
    Enquanto possa, e enquanto agüente."

    Titos Patrikios

    ResponderExcluir