quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Reflexões eleitorais

Ouvi outro dia que a maior preocupação de alguns empresários de comunicação, caso Dilma vença o pleito, é que a petista copie o regime chavista. Ou seja, fechar os canais de televisão e rádio, intervenção estadista em todos os meios de comunicação, como o camarada venezuelano vem fazendo. A cultura reginaduartista volta a assombrar a terra tupiniquim, ao arrepio dos fatos. A campanha da imprensa em “bater” no governo Lula é legítima, sim, porque tanto as prensas quanto as mídias audiovisuais têm suas inclinações políticas e partidárias. E o discurso do líder pernambucano, ao criticar nosso trabalho, foi, e é, infeliz. Bola fora, claro. E mesmo assim, a direita tucana e democrata, não sabe – nem soube – aproveitar os deslizes do criador de Dilma, ao indicar o inexpressivo Índio da Costa para vice. Serra não sabe ser malandro, não é bem assessorado, e como se diz aqui no Brasil: ele dá mole.

Nessa reta final das eleições, fica evidente o despreparo do eleitorado. Dos candidatos, não chega a valer a pena divagar aqui. A classe média é burra, alienada e preguiçosa. Os jovens riquinhos da Zona Sul do Rio, e quiçá de outros feudos sociais do país, por exemplo, são contra a Dilma. Não sabem bem a razão, mas por ela parecer o Chuck, o brinquedo assassino, por ela ser feia, por ela parecer um monstro, além de outros argumentos tão bem fundamentados, elaborados com a mesma perspicácia de um jumento, cabe a opinião de quem nem sabe quanto custa uma passagem de trem – ou o valor de uma cesta básica. Há quem critique o Serra porque ele só fala de São Paulo e suas benfeitorias (?), como se a metrópole fosse o estado, como se o estado fosse o Brasil. São maquetes e marionetes. São políticas da política.

Eu, particularmente, não gosto da Dilma. Não tem carisma, não sabe falar bem, é um personagem fabricado pelo Lula. Pois bem. Mas o Lula merece todo (meu) crédito. Aprendeu a ser político, no bom e no mau sentido, dialoga magistralmente tanto com os banqueiros, os magnatas, quanto os desempregados e esfomeados. Tem a manha de saber apanhar sem bater. Conseguiu dividir a esquerda, houve posteriormente as dissidências, mas uniu o povo. A democracia não é elaborar medidas que agradem a todos, mas medidas que atendam cada segmento da sociedade separadamente, vez por vez. E o povo sofrido, que nunca teve comida, que nunca teve trabalho, hoje tem. Mas a “culpa” é do Lula. Os classemedianos reclamam, esperneiam e criticam duramente a postura lulista. A decepção em relação ao mensalão, em 2005, o alinhamento de sua política partidária ao deslumbre do poder, por ser supostamente burro, iletrado, por ser alguém do povo. O preconceito da classe mais abastada se personifica no Lula. Afinal, dizem, já está mais do que comprovado de que o pobre no poder muda o discurso, porque o encantamento de governar embevece quem nunca teve sequer emprego digno.

Você vota com quÊ? Com o bolso, com a cabeça, com o coração, com o passado, com o futuro, com o feriado? Ou pela história, pela cidadania, pela política, pela democracia? Qual candidato faz o quê por quem? Vivemos num apagão intelectual. Não existem mais administradores públicos nem técnicos da área. As secretarias são arrendadas a arranjos políticos, cargos são balcões de negócio, assim como os meios de comunicação são plataformas políticas. Diretores e presidentes de empresas midiáticas e jornalísticas são cargos político-administrativos. Trampolins panfletários. Estes, sim, são os verdadeiros candidatos em pleitos maquiavélicos, onde não há contagem de votos. Mas de números, indicadores “competitivos”, distribuição assistencialista de funções, gincanas, tarefas premiadas com cabeças imbecis, vendidas por qualquer moeda. Esta, sim, disputada cara a cara por acéfalos, que teimam em entitular-se jornalistas, mas são garçons da informação. Vivem de gorjetas do cliente. Migalhas morais.

O jornalismo não é inimigo do povo. E nem do poder. O reportariado é tolido por políticas editoriais alinhadas a interesses nem sempre claros, mas nunca disfarçados. A imprensa foi repartida em blocos políticos, com candidatos a audiência publicitária, cotas, onde pesa mais o bolso do que a consciência. Eu voto no povo, eu voto no jornalista que ama a profissão, eu voto pela cédula sem valor monetário. Minha cédula, que não é eletrônica, é da ideologia alheia a interesses midiáticos ou políticos. Não podemos deixar que façam loteamentos na minha profissão. Eu não sou senhor feudal nem vassalo. Eu penso com a minha cabeça, à luz da razão, mesmo com a vista cansada.

3 comentários:

  1. Caro combatente Alfredo,

    É nesta hora que a indústria do medo, ao instrumentar boatos e aleivosias, tenta manter o status quo. Vale o texto do nosso bravo italiano e a ironia de Belchior. "O meu medo morreu, o que será de mim? Manda buscar outro, maninho, lá no Piauí!

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